O terreiro Ilé Àsé Ojú Oòrùn denunciou, através das redes sociais, que teve sua área sagrada devastada por um trator na última quarta-feira (13). Em carta aberta divulgada nas redes, o terreiro disse ter sofrido um “duro golpe de intolerância religiosa e racismo religioso”, que culminou na destruição de símbolos religiosos e da biodiversidade de uma mata sagrada, mantida pela comunidade, para louvar os orixás, além de ser um espaço para a coleta de folhas ritualísticas e fitotérapicas. Em documento enviado ao Portal M!, o terreiro aponta que a área foi doada ao Ilê Àsé Ojú Oòrùn pela Prefeitura de Caetité, em 1991, como sendo “território pertencente ao cômputo geral de terras devolutas do município e com a promessa de futura regularização”. No entanto, apenas com o passar dos anos, a comunidade tomou conhecimento por “meios nunca oficiais que o seu território sagrado estava dentro de uma área pertencente a herdeiros de uma conhecida família da localidade”. Ao Portal M!, o sacerdote do terreiro Ilé Àsé Ojú Oòrùn, Thonny Hawany, explicou que a ação de ataque ao terreiro foi promovida por pessoas que se autodeclaram donas do espaço. “São membros de uma família que de modo autoalegado dizem ser donos das terras no entorno do terreiro, incluindo as terras que foram doadas para o terreiro há 33 anos”, afirmou. O terreiro é gerido pela presidente Èkéjì Aniomísia Moreira Nunes, que está no cargo desde 2019. Thonny também revelou ter tido, nesta sexta-feira (15), uma reunião com três membros do Conselho da Igualdade Racial do município de Caetité. Segundo ele, durante a conversa, uma das servidoras teria afirmado que um órgão municipal havia autorizado a abertura de um loteamento nas imeadiações da área do terreiro. “Eu não me lembro qual, se a Infraestrutura ou se o Meio Ambiente, deu uma autorização para esses particulares abrirem um loteamento aqui nas mediações do terreiro. Mas ninguém na prefeitura, segundo essa pessoa, sabia que se tratava de uma falsa reintegração de parte das terras do terreiro”, contou Thonny. Ainda segundo o sacerdote, havia um diálogo em prol da legalização das terras do terreiro, que são ocupadas desde 1991. O terreiro diz ter sido comunicado pelas autoridades da época, que se tratavam de terras públicas que seriam doadas à Associação mantenedora do Ilé Àse. “Para um dos membros do terreiro com o qual essa pessoa tinha diálogo, eles estavam se preparando para fazer a legalização das terras do terreiro, porque, segundo eles, a prefeitura não tinha autorização para doar as terras para o terreiro. Mas que eles, como donos, poderiam doar. Só que nunca eles disseram que doaria para o terreiro usurpando de parte das terras da comunidade que são utilizadas para fins religiosos, para preservação do meio ambiente e para a coleta de folhas ritualísticas e fitoterápicas dentro da comunidade”, indicou Thonny.